Prejuízos acumulados da estatal com empreendimento, reduzido de polo petroquímico a uma unidade de processamento de gás natural, chegam a pelo menos US$ 14 bilhões

Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí, no Rio. Plano de investimentos da Petrobras para retomada da construção de refinarias, algo que não era feito desde a década de 1980 — Foto: Custodio Coimbra

Porto Velho, Rondônia -
Dezesseis anos e US$ 14 bilhões em prejuízos após o início das obras, a Petrobras concluiu o que sobrou do Comperj, hoje com o nome de Polo GasLub Itaboraí. A petroleira recebeu na sexta-feira passada a autorização da ANP, a agência reguladora do setor, para receber o gás natural produzido em campos do pré-sal na unidade. Está prevista para sexta-feira uma cerimônia de inauguração, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em vez do complexo petroquímico originalmente planejado, o empreendimento agora se dedica apenas a processar o gás natural dos campos do pré-sal, trazido por um gasoduto de 355 quilômetros de extensão, a maior parte submarina, mas já tem ampliações a caminho.

O primeiro plano de negócios da Petrobras sob o novo governo do PT incluiu novas refinarias no empreendimento — que deverá ter o nome novamente alterado, segundo apurou O GLOBO.

Mesmo com o escopo reduzido, a finalização da construção da UPGN (unidade que processa o gás) e da Rota 3 (um dos trechos da rede de gasodutos submarinos que escoa a produção em alto-mar) terão o efeito de ampliar a oferta de gás natural no mercado nacional.

As estruturas têm capacidade para processar 21 milhões de metros cúbicos de gás por dia. Em entrevista à Agência Estado na segunda-feira, a diretora de Engenharia, Tecnologia e Inovação da Petrobras, Renata Baruzzi, afirmou que esse volume de produção supera as importações de gás feitas pela companhia, ou seja, o saldo final da entrada em operação das primeiras unidades do Polo GasLub será o aumento da oferta do insumo no país.

A Petrobras confirmou ao GLOBO o início do funcionamento da UPGN, mas informou que a operação comercial está prevista apenas para outubro.

De polo petroquímico a destaque da Lava-Jato

As obras do projeto bilionário, que deveria atrair fábricas de plástico para Itaboraí, na Região Metropolitana do Rio, começaram em 2008, mas foram paralisadas em 2015. A construção do Comperj foi destaque entre os casos de corrupção envolvendo a Petrobras, que seriam revelados pela Operação Lava-Jato, a partir de março de 2014.

Desde 2008, a petroleira estatal já contabilizou prejuízo de ao menos US$ 14 bilhões com o projeto, fruto de pagamento de propinas, obras superfaturadas e mudanças no projeto. Entre 2017 e 2018, já no governo Michel Temer, a Petrobras abandonou de vez os planos de construir refinarias para produzir insumos petroquímicos. Foi então que o projeto foi encolhido.

Mesmo assim, até ficarem prontas agora, a finalização da construção da UPGN e da Rota 3 teve idas e vindas. As obras foram afetadas pela crise econômica causada pela Covid-19 e chegaram a ser novamente paralisadas, em 2022 — com direito a desavenças com as construtoras contratadas.

Ampliação à vista


A possível participação do presidente Lula na cerimônia de inauguração prevista para sexta-feira reforça os planos de ampliar o Polo GasLub. O Plano Estratégico 2024-2028, primeiro da estatal sob a nova gestão petista, lançado em novembro do ano passado, incluiu a construção de refinarias de diesel, de diesel renovável e de bioquerosene de aviação no empreendimento.

Uma suposta lentidão na execução deste plano de investimentos de US$ 102 bilhões foi colocada como um dos estopins para a demissão de Jean-Paul Prates, primeiro presidente da Petrobras no atual governo Lula.

Anunciada como nova presidente da estatal em maio, Magda Chambriard assumiu o cargo em junho com a missão de acelerar obras, como as de ampliação do GasLub. Ainda em maio, a Petrobras lançou a licitação para contratar a construção das novas refinarias.

Além das refinarias, a Petrobras já anunciou publicamente a intenção de construir no GasLub um “parque termelétrico”, com duas usinas de geração de eletricidade a gás natural. Somadas, as usinas teriam capacidade de 1,867 gigawatts (GW).


Fonte: O GLOBO