Juliano Varela (à esquerda) e Marcio Ximenes (à direita) concorrem à vaga coletiva na Câmara Municipal de Campo Grande — Foto: Miguel Palacios
Porto Velho, Rondônia - Os eleitores de Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul, terão como opção de voto em outubro uma chapa que tem a inclusão como bandeira ao reunir duas pessoas com deficiência. Juliano Varela, chef de cozinha de 32 anos com síndrome de Down, está concorrendo por uma cadeira na Câmara Municipal para um mandato coletivo com Marcio Ximenes, professor de 43 anos com deficiência visual.
Juliano e Márcio se juntam aos outros candidatos pelo país que declararam ter algum tipo de deficiência. Neste ano, 4.959 candidatos declararam se enquadrar neste quesito. O número representa uma queda em relação a 2020, quando 6.657 candidatos afirmaram a condição.
Juliano e Marcio são filiados ao PSD e o mandato coletivo foi decidido apenas no último dia 15. Eles apontam o fato de não ter feito uma pré-campanha como principal desafio.
— O nosso desafio é que chegamos agora. Eu já queria uma oportunidade dessa há muito tempo, mas não tinha uma possibilidade. Eu acredito que vamos poder contribuir muito, principalmente com a força que tem o nome do Juliano. Ele vai ser os olhos e eu vou ser a mente — contou Marcio ao GLOBO.
Marcio parou de enxergar enquanto ainda era criança, após cair de um cavalo enquanto tentava pegar mangas com a irmã, no inteiro do estado. Aos 14 anos, entrou no Instituto Sul-Mato-Grossense para Cegos Florivaldo Vargas (Ismac), onde aprendeu braile e passou por toda a reabilitação necessário.
Formado em pedagogia, Márcio tem uma filha e atuou como professor e gestor do Instituto até o último dia 15, quando resolveu abraçar o novo sonho.
— Eu falo que se a cidade for boa para a pessoa com deficiência ela vai ser excelente para o restante da população — afirma o professor.
Se para Márcio não houve dúvida quando o convite o chegou, Juliano, que será titular da chapa, precisou de um tempinho para bater o martelo e dizer sim para a candidatura.
Inicialmente, a proposta era para que Juliano concorresse sozinho como vereador, o que trouxe insegurança para sua mãe, Maria Lúcia Fernandes.
— Me deu insegurança pela dificuldade dele em elaborar em expressar os seus pensamentos. Eu tinha medo que ele não conseguisse transmitir direito as mensagens que gostaria — explicou Malu ao falar sobre a dificuldade de oratória do filho — Quando o Marcio chegou para o mandato coletivo essa insegurança foi embora e hoje eu estou com o coração cheio de alegria.
Juliano é chef de cozinha autônomo e vende seus produtos em um trailer. Pão, chocotone, penetone, bolo, brownie, salgadinhos, o cardápio oferecido por Juliano aos seus clientes é amplo. Além disso, o candidato participa de uma banda formada por pessoas autistas e com síndrome de Down.
— A minha vida é totalmente independente da do Juliano. Ele pega avião sozinho, ele tem autonomia, namora, vive a vida dele por conta própria porque ele está incluído na sociedade. Ele passou por todos o desenvolvimento que permitiu que ele conseguisse isso.
Juliano emprestou o seu nome para uma fundação destinada a promover o pleno desenvolvimento de pessoas com deficiência, fundada em 1994. Hoje, a fundação atende mais de 500 pessoas com síndrome de Down, com programas específicos por faixa etária, com atenção médica especial e todos os estímulos que são necessários.
— O Juliano ia para a escola, tinha a socialização dele, e depois ia para a fundação e recebia todas as especificidades que ele precisava pela deficiência. Ele tinha aula de música, de capoeira, e várias outras — explica Malu, completando: — Precisamos incluir as pessoas, mas precisamos oferecer o que elas precisam para ter as mesmas oportunidades. Tenho que fazer a inclusão de verdade, com respeito e oferecendo o que elas precisam para se sentirem iguais.
A síndrome de Down é condição causada pela presença de três cromossomos 21 (ao invés de dois). Isso ocorre na hora da concepção, de forma aleatória.
A trissomia do cromossomo 21 pode ser observada em características físicas, como olhos oblíquos, rosto arredondado, mãos menores. Ela também afeta o desenvolvimento cerebral — é considerada a principal condição genética que leva à incapacidade intelectual —, reduz a força e do tônus muscular (condição chamada hipotonia) e pode comprometer a visão, audição e coração.
Fonte: O GLOBO
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