Financiamento virá por meio do Novo Fundo Clima, com foco em descarbonização
Mina da canadense Sigma Lithium no estado de Minas Gerais — Foto: Dado Galdieri/Bloomberg
Porto Velho, Rondônia - O BNDES aprovou financiamento de R$ 486,7 milhões para a mineradora Sigma implementar uma unidade de beneficiamento de lítio — metal essencial para a produção de baterias para carros elétricos e afins — com atributos sustentáveis.
A unidade faz parte do que a companhia chama de “fase 2” na planta de Grota do Cirilo, localizada no Vale do Jequitinhonha (MG). De acordo com comunicados da Sigma — empresa com sede no Canadá, mas operações concentradas no Brasil e com uma CEO (e principal sócia) brasileira —, o investimento vai viabilizar um aumento de 250 mil toneladas anuais na produção de concentrado de lítio, que alcançará 520 mil toneladas.
Os recursos serão liberados por meio do Novo Fundo Clima, voltado para negócios com impacto na transição energética. O financiamento tem prazo de 16 anos, com juros de 6,15% ao ano, acrescidos do “spread” do BNDES, que é a partir de 1,3% ao ano.
Primeiro desembolso no segmento
É o primeiro desembolso direto do BNDES para projetos da Sigma Lithium e também o primeiro financiamento significativo do banco de fomento para a cadeia do lítio, segundo José Luís Gordon, diretor de Desenvolvimento Produtivo, Inovação e Comércio Exterior do BNDES. (Em paralelo, o banco lançou com a Vale um fundo para investimento em projetos de minerais estratégicos, como lítio e cobalto; o gestor do fundo ainda está sendo selecionado).
— O beneficiamento de concentrado de lítio é uma etapa fundamental se quisermos ter uma cadeia de produção de baterias no Brasil. O país pode se posicionar como um “player” estratégico nesse segmento, mas, para isso, será preciso avançar nessa cadeia, como preconiza nossa política industrial — diz Gordon. — Já temos no complexo industrial brasileiro empresas que produzem ônibus elétricos. Portanto, a demanda local por baterias já existe.
Para o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, o projeto “sintetiza o objetivo do Novo Fundo Clima” no governo Lula, “que é o apoio à indústria verde” com foco em descarbonização.
— A articulação entre o Novo PAC, o Plano de Transição Ecológica e a Nova Indústria Brasil tem sido fundamental para a retomada dos investimentos e a geração de empregos, como demonstram os dados do Caged desta semana — argumenta Mercadante.
Preços globais em queda livre
O desembolso do BNDES cobre quase a totalidade do investimento previsto pela Sigma no projeto, que é de R$ 492,4 milhões. A companhia e o BNDES afirmam que o ativo é “carbono líquido zero”, não utiliza químicos nocivos, nem barragens de rejeitos, e recorre a água potável e energia de fonte limpa.
Em fevereiro, a Sigma Lithium já havia anunciado que tinha recebido uma carta de intenções do BNDES para a linha de financiamento agora liberada.
“Com este financiamento, o BNDES coloca-se na vanguarda das principais entidades de fomento mundial, que atuam em países com políticas industriais de longo prazo, que buscam hoje trazer para seus respectivos países os principais elos da indústria de base que suportam as cadeias de agregação de valor dos insumos para baterias de carros elétricos”, diz, em comunicado, Ana Cabral-Gardner, CEO e co-presidente do conselho da Sigma Lithium.
O dinheiro chega em um momento em que o preço do lítio no mercado internacional enfrenta uma queda histórica. Desde o início de 2023, a cotação caiu mais de 80%, para menos de US$ 12 mil por tonelada, segundo o Financial Times, devido à desaceleração das vendas de veículos elétricos em escala global e ao aumento da oferta do metal.
A Sigma Lithium está sediada em Vancouver, no Canadá, e tem ações negociadas na Bolsa de Toronto e na Nasdaq, em Nova York, com valor de mercado de R$ 6,3 bilhões.
Fonte: O GLOBO
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