Enquanto Lukas e Júlia Bergmann vão conquistando seu espaço nas equipes masculina e feminina, Alan e Darlan Souza disputam posição no time de Bernardinho

Porto Velho, Rondônia -
Quando as seleções masculina e feminina de vôlei estrearem nos Jogos Olímpicos de Paris-2024, duas famílias terão motivos em dobro para celebrar: os Bergmann, representados pelos ponteiros Júlia e Lukas; e os Souza, presentes com os opostos Alan e Darlan.

A presença do quarteto na lista de convocados marca a retomada de uma espécie de tradição no vôlei brasileiro, que é a presença de irmãos nas equipes olímpicas. Primeiro vieram Tande e Adriana Samuel, que disputaram os Jogos de Atlanta-1996 e Sydney-2000, sendo a caçula nas areias; depois foram Murilo e Gustavo Endres, medalhistas de prata em Pequim-2008.

Darlan, Alan e a mãe Dona Aparecida: família junta em Paris-2024 — Foto: Divulgação CBV

Dessa vez, além de três deles fazerem suas estreias nos Jogos (Alan é exceção e esteve em Tóquio-2020), chama a atenção o fato de os irmãos atuarem na mesma posição em quadra. No caso dos novatos Júlia e Lukas, as trocas de experiências entre eles vêm ocorrendo desde o momento em que foram convocados.

— Assim que saíram as listas, um deu a notícia para o outro. Foi uma sensação incrível, acelerou o coração. Estamos falando da realização do sonho de todo atleta, e ter a sua irmã na mesma situação, é muito gratificante. Fica até difícil de descrever, de pensar que disputaremos uma edição de Jogos Olímpicos juntos — diz o caçula Lukas, 20 anos, três a menos que Júlia.

Julia Bergmann, jogadora da seleção brasileira de vôlei — Foto: Wander Roberto/Inovafoto/CBV

Quem também não cabe em si de tanta felicidade é a mãe dos Bergmann, Dona Neide. Aos 53 anos, poderá assistir aos filhos, de uma vez só, em Paris-2024. Júlia foi convocada por José Roberto Guimarães e Lukas, por Bernardinho. Ela conta que apostava nessa chance dupla apenas para Los Angeles-2028:

— Quem diria que o sonho está se realizado agora, né? Ainda não acredito, surreal. Foi uma surpresa para a gente, porque achávamos que, no caso do Lukas, seria mais seguro pensar no ciclo seguinte — explica Neide, que recebeu a notícia da convocação dele ao lado de Júlia, que estava de folga em casa, em Toledo (PR). — Foi a maior festa, ficamos emocionados, uma alegria imensa. E a Júlia perguntou se a gente tinha feito a mesma festa quando ela foi chamada, que foi antes (risos).

Neide explica que no caso de Júlia, já esperava a convocação olímpica e que por isso comprou passagem aérea com antecedência. Júlia está há mais tempo na seleção adulta e defendeu o THY, da Turquia, clube em que Zé Roberto é o treinador.

Lukas Bergmann: ponteiro da seleção brasileira de vôlei — Foto: Divulgação/CBV

— Quando o Lukas foi convocado pelo Renan (Dal Zotto), os torcedores questionaram quem ele era e porque ficava no banco. Era o Lukas, irmão da Júlia. O começo é assim, tem de ter essa experiência também. Depois, quando se destacou no Sesi (campeão da Superliga 2023/2024) e na VNL, já com o Bernardinho, ele deixou de ser o irmão da Júlia e passou a ser o Lukas. E passamos a ter esperança em sua convocação.

Ela e o marido André haviam combinado de viajar para onde fosse para ver a estreia dos filhos nos Jogos Olímpicos. E isso poderia acontecer em edições diferentes. Agora ficarão praticamente o período da Olimpíada inteiro dentro da Arena Paris Sul, construída no maior centro de exposições da França, em Porte de Versailles. É que os jogos da seleção feminina e o da masculina serão em dias alternados neste local.

Já os irmãos Júlia e Lukas, que intercalam os jogos com treinos, recuperação e descanso, ainda terão que pensar na melhor estratégia para torcer um pelo outro.

— Nem conseguimos fazer planos ainda. Vamos arrumar um jeito de estarmos juntos, tentar ver os jogos pessoalmente, ou mesmo pela TV, mas sempre na torcida um pelo outro — diz Lukas.

Neide contou que vai dar um jeitinho para assistir também o vôlei de praia e a natação. Na Alemanha, Lukas e Júlia começaram na natação. Neide, que é brasileira e professora de alemão, conheceu André, alemão de 56 anos e que trabalha com TI, jogando vôlei. Segundo Neide, as crianças gostavam de acompanhá-los na quadra. Quando a família se mudou para o Brasil, todos passaram a bater bola na areia.

— Eles sempre se esforçaram e treinaram muito, fizeram a parte deles. As convocações não dependiam somente deles, então, tinham os pés no chão — afirma Neide, que ficará também na companhia dos familiares de Ana Cristina e Roberta.

— A comemoração mesmo, a festa ficou para depois. Só vou ver o Lukas em Paris e espero que seja uma comemoração pelas medalhas. Sei que vou sofrer, chorar, me emocionar... Mas vê-los felizes e realizados é tudo o que uma mãe deseja.

O início desse sonho familiar está marcado para o dia 27, às 8h (horário de Brasília), com a estreia da seleção masculina diante da Itália. A feminina abre sua participação no torneio olímpico dois dias mais tarde, também às 8h, contra o Quênia.


Fonte: O GLOBO