Dez unidade de ensino criadas a partir de 2013 passaram a maior parte de seu tempo de funcionamento em meio a apertos fiscais e tentam juntas se destacar do orçamento de 'irmãs mais velhas'

Porto Velho, Rondônia -
Em um segmento onde são permanentes os pedidos de mais recursos, as universidades mais novas da rede federal de educação são as que mais sofrem. Além da falta de custeio adequado — uma realidade apontada por todas as instituições — as dez “caçulas” criadas a partir de 2013 passaram a maior parte de seu tempo de funcionamento em meio a apertos fiscais, e por isso ainda não têm uma consolidação adequada.


Esse cenário é representado especialmente pela ausência de servidores e de estruturas básicas, como salas de aulas para todos os cursos. Juntas, elas tentam agora se destacar do orçamento das irmãs mais velhas.

— Recebemos os mesmos recursos que todas as outras pelos alunos, mas não temos as estruturas mínimas. A gente sabe que o valor não é suficiente para ninguém, mas o impacto na gente é muito maior — afirma Christiano Coelho, reitor da Universidade Federal do Jataí-GO (UFJ).

Núcleos improvisados


De acordo com o reitor da UFJ, esse grupo de universidades — conhecidas como novíssimas e supernovas — precisam de um “enxoval”.

— Há pelo menos dez anos tentamos implementar um sistema de data show nas nossas aulas. Uma coisa simples. Mas até agora não conseguimos por não ter recursos. Este ano, o orçamento destinou apenas R$ 1 para investimento na nossa universidade. Nem um banco novo eu consigo comprar — afirma.

Na UFJ, a reitoria e os prédios administrativos foram improvisados em salas de aulas. Já na Universidade Federal do Oeste da Bahia (Ufob), os espaços para ensino são disputados: atualmente, são ministrados 22 cursos num lugar previsto para apenas oito. Às vezes, conta Fabrício Moreira, professor do curso de Administração da instituição, disciplinas não são dadas por falta de sala, mesmo havendo professores e alunos disponíveis.

— Os laboratórios funcionam o tempo todo, até sábado. Já teve uma disciplina que foi ministrada nas férias porque não foi possível no período regular — conta Moreira.

Todas essas novas universidades foram criadas a partir de uma estratégia de interiorização iniciada em 2003, no primeiro governo Luiz Inácio Lula da Silva, e acelerada no segundo mandato do petista, em 2007. Um dos resultados foi uma expansão massiva do ingresso de estudantes.

Em 2007, a rede federal de educação superior tinha por volta de 560 mil matriculados. O último censo de Educação Superior disponível, que é de 2022, aponta que esse patamar subiu para 1,3 milhão, mais do que o dobro. No entanto, as sedes dessas instituições — que estão em cidades como Parnaíba (PI), Catalão (GO), Rondonópolis (MT), Araguaína (TO) e Garanhuns (PE) — trazem desafios associados à abertura de equipamentos desse tipo longe de centros urbanos.

A Ufob, por exemplo, construiu um restaurante universitário que está há quase cinco anos fechado porque a cidade de Barreirinhas, de 150 mil habitantes, não tinha capacidade de processar os resíduos que um equipamento daquele porte produzia. Uma estação de tratamento precisou ser levantada para liberar suas atividades. O mesmo aconteceu com equipamentos de laboratórios, que ficaram dois anos parados por falta de rede de energia adequada. O curso mais atingido foi justamente o de Engenharia Elétrica.

Outro desafio da interiorização é a maior quantidade de alunos que precisam de assistência estudantil. A vice-reitora da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), Lucélia Cavalcante, estima que 90% dos alunos precisam de ajuda para continuar os estudos. No entanto, não há orçamento para atender todos. Lucélia acrescenta que falta espaço adequado.

— Alguns dos nossos cursos funcionam em escolas públicas, que alugamos — diz.

Emancipadas


Em junho, a Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) recebeu o segundo encontro anual das universidades novíssimas e supernovas. Os reitores afirmaram que essas instituições possuem 3,3% das vagas da rede e 3,6% dos docentes, mas apenas 1,9% dos técnicos administrativos — o que demanda a terceirização de serviços e, por consequência, compromete mais o orçamento de custeio.

— Reconhecemos sua importância e a necessidade de avançarmos na consolidação dessas instituições. Elas respondem por 11,3% das obras que serão iniciadas neste ano, no Novo PAC das universidades — afirmou o secretário de Educação Superior do Ministério da Educação, Alexandre Brasil, no encontro da UFSB.

Geralmente, as novíssimas e supernovas são criadas a partir da emancipação de outras instituições. Por isso, costumam contar com menos técnicos, já que utilizam os funcionários da antiga sede. Na semana passada, o presidente da Comissão de Educação da Câmara, Nikolas Ferreira (PL-MG), debateu a transformação do campus Mucuri da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) numa nova instituição, com mais independência.

O MEC informa que o Novo PAC destinará R$ 3,17 bilhões à consolidação das universidades e que trabalha junto ao Ministério de Gestão e Inovação para ampliar o número de docentes e técnicos destas instituições.


Fonte: O GLOBO