Gigante coreana de eletroeletrônicos investe na atualização de suas duas fábricas no Brasil para elevar a produção de itens mais sofisticados
Porto Velho, Rondônia - Na última quarta-feira, a Samsung fez barulho em Paris ao lançar uma nova geração de dispositivos com inteligência artificial (IA), como smartphones dobráveis, anel inteligente, relógios e até fones de ouvido.
Gustavo Assunção, principal líder da multinacional coreana no Brasil, diz que há pela frente uma agenda ainda mais intensa de lançamentos da maior companhia de eletroeletrônicos em atuação no país.
Em entrevista ao GLOBO, o executivo destaca ações para dificultar o mercado ilegal de celulares e as estratégias para estimular as vendas de smartphones das linhas premium, com preços mais altos, num país em que os juros altos ainda são um entrave ao crédito.
O plano no Brasil passa ainda por vender TVs nas mesmas lojas que hoje comercializam celulares e tablets e elevar a produção nacional de alguns itens. “Não vamos abrir mão do protagonismo que temos no Brasil”, afirma o vice-presidente sênior da Samsung no país, promovido ao cargo em março.
Como estão as vendas de celulares no Brasil?
É um mercado que crescia organicamente até dois anos atrás. Hoje, há avanço no segmento premium. O Galaxy AI (plataforma de IA lançada em janeiro deste ano) é a locomotiva de crescimento, com a chegada do S24.
Os dobráveis, com a linha Z, passam a ter relevância entre os flagships (modelos de alto valor). Mas há um arrefecimento de vendas nas categorias de entrada, com o mercado ilegal, que ganhou espaço no Brasil.
E o que a Samsung, como líder de mercado, tem feito para combater o mercado ilegal?
Neste ano, renovamos toda a linha da série A, que são os aparelhos de entrada e os intermediários da Samsung, com mais memória e armazenamento, além de telas maiores. Temos que assegurar uma oferta adequada para o consumidor. Os preços começam a partir de R$ 799.
Melhoramos os recursos dos produtos e oferecemos preço mais acessível em conjunto com o varejo. Foi um trabalho a quatro mãos. Como o varejo oficial sofre com o mercado ilegal, percebemos que era o momento de juntar forças e fazer um trabalho para estancar essa sangria.
Através da Abinee, a associação da indústria, trabalhamos para que haja uma interlocução com o governo e a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) para minimizar a entrada de produtos ilegais no país. E temos visto que está sendo feito um movimento para sensibilizar o consumidor, que não pode ser penalizado.
Mas algumas plataformas de ‘e-commerce’ entraram com liminares para tentar adiar a medida da Anatel que visa coibir a venda de produtos ilegais...
Todas as empresas que operam no Brasil devem atuar conforme a lei. A Anatel exerce sua autoridade para que as companhias funcionem dentro da legislação. Esperamos que todos os canais também sigam o mesmo caminho.
O mercado cresce este ano?
Acredito que o mercado cresce um dígito alto, mais próximo de 10%. A Samsung teve um aumento no primeiro semestre e queremos manter esse ritmo no segundo. Os lançamentos que fizemos tiveram ótima aceitação, e seguiremos ganhando tração no segundo semestre com os novos produtos. Vamos nos unir ao varejo para criar boas ofertas. Estimularemos o consumo no mercado oficial.
A Samsung vai usar o apelo da IA para elevar as vendas?
Temos uma postura democrática em relação ao uso da IA. Levamos isso para modelos mais antigos, dando a opção para o usuário atualizar os aparelhos. Agora, lançamos a sexta edição dos dobráveis. Até então, abríamos mão de alguns recursos nesses modelos por conta do formato, como menor bateria e câmera sem os recursos mais avançados.
E isso foi um aprendizado. Assim, pela primeira vez, teremos a oferta de dobráveis sem concessões em funcionalidades. Agora, terão o mesmo nível de bateria, processador e qualidade de câmera que você encontra na série S (a mais premium). Portanto, a adesão será mais fácil.
Estamos confiantes. Haverá uma experiência de IA aprimorada para o uso em telas dobráveis. O Z Fold 6 (aparelho dobrável) está ainda mais leve e com uma tela externa mais ampla.
Os preços dos dobráveis neste ano são os mesmos do ano passado. O dólar impacta?
O dólar elevado tem impacto, mas o aumento de preço será a última ferramenta. O que estamos fazendo é tornar a operação mais eficiente. Estamos analisando se há espaço para melhorar a eficiência, e sempre há. Podemos otimizar a logística e trabalhar com mais eficácia em marketing. Nossas decisões não são pautadas pelo contexto específico de 2024. Sempre trabalharemos para estimular o consumo.
Mesmo recente, a IA já é um diferencial de vendas?
A IA é a locomotiva de vendas. Tivemos uma resposta muito positiva com o S24, pois os recursos se tornaram tangíveis. As pessoas estão utilizando funcionalidades como a “Foto Generativa”, a função de “Circular para Pesquisar” e a tradução simultânea em chamadas.
A IA está apenas começando. Temos investimento massivo e um trabalho de colaboração com Google, Microsoft e Qualcomm. No Galaxy Z Fold 6, por exemplo, haverá atalhos para acessar de forma mais simplificada o Gemini (a IA generativa do Google).
Todas as marcas buscam se apropriar dessa mensagem, mas poucas empresas estão realmente entregando IA. Estamos renovando todo nosso portfólio de relógios e fones com IA pela primeira vez. Certamente, não chegamos ao limite. A tecnologia é um mercado em constante evolução.
Como a Samsung treina sua plataforma de IA?
Privacidade e segurança são pilares da companhia. Há muito debate sobre isso, e a Samsung participa ativamente dessas conversas sobre necessidades regulatórias. Atenderemos plenamente qualquer decisão tomada e respeitaremos as leis de cada país nesse sentido.
Qual é a expectativa com o lançamento de um anel?
O Galaxy Ring é focado no monitoramento de saúde e bem-estar. A ideia é tornar esse processo mais simples, pouco invasivo e confortável para os consumidores. Começamos isso com os relógios e agora estamos consolidando com o anel. Será lançado no Brasil em breve, neste ano.
Vamos trabalhar a categoria de anéis de maneira muito intensa. Estamos explorando outros canais de venda. Será necessário abordar esse consumidor não necessariamente em lojas de tecnologia. Neste primeiro momento, o produto será importado.
Quais são os investimentos nas fábricas no Brasil?
Nossas fábricas, em Manaus (AM) e Campinas (SP), têm sido atualizadas para que possamos produzir localmente também os novos modelos de celulares e outros produtos. Há ainda um aprimoramento para a fabricação de produtos flagship, para que consigamos comercializar itens mais sofisticados. Não vamos abrir mão do protagonismo que temos no Brasil, um dos mercados mais importantes no mundo.
Entre os recursos, destacaria a detecção de apneia (ainda em processo de homologação no Brasil) nos relógios. É algo que foi desenvolvido no Brasil em nossos laboratórios de inovação e que será ampliado globalmente.
Além dos smartphones, a Samsung tem apostado em IA em outros produtos?
Estamos trabalhando para ter uma única plataforma de comunicação. Um dos pilares é o AI for All (inteligência artificial para todos). Agora lançamos TVs com IA que ajudam na economia de energia e melhoram a imagem através do entendimento do conteúdo. Isso se aplica também à linha branca.
Acabamos de lançar as lavadoras Bespoke (nova linha da Samsung). E as geladeiras que estamos introduzindo terão IA para otimização do consumo de energia, pois esse é um tema importante para os consumidores. A camada que conecta tudo isso é o SmartThings (plataforma de IoT, sigla em inglês para a chamada internet das coisas, que monitora e controla os dispositivos).
Queremos levar essa iniciativa para mil lojas no Brasil.
E como vai funcionar?
Serão espaços com uma tela interativa da Samsung, onde as pessoas poderão usar o SmartThings (simulando a tela de um celular). Mas não serão apenas produtos da Samsung, pois estão sendo homologados produtos de outras marcas, como lâmpadas e sistemas de automação de cortinas. A ideia é criar algo abrangente.
Mas a Samsung tem lojas próprias onde são vendidos celulares e tablets. Vai vender outros itens como TVs?
Sim. Nas lojas de maior porte, vamos vender TVs.
Como a empresa tem lidado com os juros altos no Brasil?
Temos trabalhado com nossos parceiros comerciais em ações promocionais para lidar com os juros altos, seja via parcelamento sem juros ou crediários. No caso de produtos flagship, há outras ferramentas, como trade-in (troca por aparelhos mais antigos) e cashback (tipo de recompensa a clientes fidelizados, que resultam em descontos).
Fonte: O GLOBO
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