Em dois meses de trabalho, português sobrevive aos diversos desfalques e acostuma seus jogadores a variações, fatores que ajudam a explicar liderança alvinegra no Brasileiro

Porto Velho, Rondônia -
Quando Artur Jorge chegou ao Botafogo, no início de abril, chamou a atenção por ter emplacado uma escalação com quatro atacantes logo em sua estreia (derrota para a LDU, na Libertadores), assim como nas partidas seguintes. Ontem, porém, no empate diante do Athletico, pelo Brasileirão, seu time titular teve apenas Júnior Santos na frente. Em dois meses de trabalho, o português vivenciou uma escalada tática, mostrando ser um adepto de flexibilidade de esquemas, influenciado pelas estratégias dos adversários e pelas circunstâncias adversas.

O período vem sendo marcado por lesões, convocações e fatores imponderáveis. Nesta quarta-feira, ele não podia escalar Savarino (convocado pela Venezuela para a Copa América), Tiquinho (desfalque pela morte do pai) e Jeffinho (lesionado). Além disso, Luiz Henrique foi poupado no primeiro tempo, não apenas pela sequência recente de jogos, mas pela opção tática.

— Ele não começou, mas ajudou quando teve oportunidade de entrar. Luiz é mais rápido e vertical. Eduardo tem mais contenção e bola, e melhor jogo entre as linhas. Sabíamos que (o Athletico) era uma equipe que jogava com linha mais baixa e precisaríamos de alguém para jogar nesses espaços — justificou Artur, na coletiva.

Assim, iniciou o jogo com Eduardo e um meio campo formado por cinco jogadores (Danilo Barbosa, Marlon Freitas, Tchê Tchê e Óscar Romero), uma outra grande novidade, para quem tinha começado a passagem no alvinegro utilizando apenas dois homens no setor.

Apesar do time paranaense o ter superado na estratégia, a decisão prova que o português se sente cada vez mais à vontade para fazer seu elenco se adaptar às diferentes situações. A escalada de variações nos setores ofensivos ainda tem sido uma necessidade de sobrevivência.

— Há um contexto importante: perceber quais atacantes que eu tenho disponíveis para podermos jogar com quatro ou com cinco, se for o caso. Mas, aquilo que é a dinâmica da equipe, naturalmente, se ajusta em função das características individuais de cada um dos jogadores — adicionou Artur Jorge.

As ausências têm ditado muito as escolhas do treinador. Ele já deixou claro que pediu reforços a John Textor para ter mais armas na mão no restante da temporada. Por exemplo, há a necessidade de um jogador que ocupe a faixa esquerda do ataque. A disponibilidade de peças atinge a própria confiança do time.

Quando quase todo o elenco estava inteiro, o português escalou quatro jogadores teoricamente ofensivos. Porque, na prática, a equipe trabalhava com uma dupla de ataque, enquanto os outros ajudavam na recomposição. Claramente, ele também queria trazer um impacto e mostrar seu desejo por um futebol vertical e agressivo.

O tempo acabou lhe pedindo que buscasse mais controle em alguns jogos, o que um meio com três ou quatro jogadores permite. O retorno de Tchê Tchê após um tempo afastado e a estabilização de Óscar Romero no time deram mais opções. A transição para o modelo mais "encorpado" ocorreu de forma natural. Até chegar ao que se viu no jogo de ontem.

— Obviamente, não posso "fazer" atacantes de um momento para o outro, e ter jogadores com as características do Júnior Santos para jogarmos com um, dois, três ou quatro jogadores naquelas posições. Temos que utilizar aqueles que, neste momento, estão disponíveis, e utilizarmos de forma a poder não comprometer a dinâmica — frisou o treinador do Botafogo.

— Mérito do adversário também. Nós não podemos esquecer que não jogamos sozinhos — concluiu.

O certo é que os jogadores do alvinegro têm se acostumado às variações, seja entre diferentes partidas ou mesmo dentro delas. Quando alguns nomes retornarem e outros chegarem (como Igor Jesus e Allan), a equipe elevará ainda mais sua característica de versatilidade. Na próxima rodada do Brasileirão, às 16h do sábado, o Botafogo visita o Criciúma.


Fonte: O GLOBO